terça-feira, 16 de setembro de 2008
Construindo relações
Reflexões e impressões...
Reunimos-nos na sexta-feira à tarde (05/09/2008) com a coordenadora pedagógica da Escola Mª Lúcia Jaqueira juntamente com as regentes das turmas do primeiro e segundo ciclos, as quais estaremos observando na próxima semana e estagiando no mês de outubro.
O estágio está sendo de caráter participativo tanto da parte das equipes como pelos professores que nos acompanham. A visita à Escola é um exemplo desta participação. Estou sentido os professores presentes e muito cuidadosos, particularmente Luiz Cláudio, que está me acompanhando, no que se refere às competências docentes.
Fomos muito bem acolhidas em reunião pelas educadoras da escola. Nós conversamos sobre as experiências de cada estagiária, as inquietações, expectativas e sobre as possibilidades de ajuda mútua entre todas nós durante o período de estágio.
Conhecer a escola e as educadoras antes de iniciar a observação é de grande importância para que possamos estar mais à vontade no ambiente em que vamos estar estagiando.
Itinerância Formativa...
Cresci ouvindo que estudar era importante. Minha mãe oferecia tudo o que não teve a nós para que continuássemos na escola, mesmo com tantas dificuldades que era desde a falta de materiais básicos como caderno, lápis, borracha etc. até a falta de uma boa alimentação e de saúde. Porém, minha mãe sempre me motivava a ir às aulas. Ela acreditava que a educação poderia nos dar melhores condições de vida do que a que ela levou.
Iniciei na escola aos sete anos. Na época só havia disponibilidade de vagas para educação infantil em escolas particulares. E como minha família não tinha condições financeiras para aplicar em educação, então foi preciso chegar aos sete anos para dar início aos estudos.
Não tenho muitas lembranças do primeiro ano a não ser de algumas atividades com lápis de cores e da dureza da professora em relação às idas ao banheiro e por causa disso eu acabei passando algumas situações vexatórias frente aos meus colegas.
As escolas em que eu estudava eram distantes de minha casa, às vezes em outro bairro. Além da distância que havia para chegar à escola, eu também tinha que realizar a atividade sozinha. Meus irmãos precisaram trabalhar cedo e eu ficava com minha mãe em casa e como ela não sabia ler, não podia me ajudar.
Na quarta série fui para a recuperação final em três disciplinas: Matemática, Estudos sociais e Ciências. Havia sido aprovada apenas em Português, com a média 5,0. Para surpresa minha, quando fiz a primeira avaliação (Estudos Sociais), recebi a notícia de que não poderia fazer as outras avaliações por estar reprovada já primeira tentativa de aprovação. Na verdade eu não sabia muita coisa. A professora fazia os famosos ditados de palavras e de textos e eu não conseguia acompanha-la, nem tinha muito êxito na escrita. Recordo da sabatina matemática que era costumeira em nosso meio. Neste período eu consegui decorar a tabuada toda para responder às perguntas relacionadas à multiplicação e divisão.
Repeti a quarta série na escola Anísio Teixeira aos doze anos. Neste período eu me despontei e tomei gosto pelos estudos. Era muito aplicada. A partir daí não tive mais problemas com os estudos. Foi neste mesmo ano que comecei a pensar no meu futuro, o curso que queria fazer na universidade e, não era pedagogia...
Ao término do segundo grau já pensava em fazer pré-vestibular, porém o custo mensal estava longe do meu orçamento, por isso fiquei quase três anos para prestar o vestibular. Até que um dia me despertei para estudar sozinha em casa, e foi aí que tentei passar no curso de enfermagem, meu sonho de adolescência. Porém, “seleção social” impediu minha aprovação. Após essa tentativa, escolhi biologia, e fui aprovada em 34º lugar num curso que só tem trinta vagas. Só depois é que pensei em pedagogia. Prestei o vestibular e fui aprovada. A notícia alegrou o meu coração e então me decidi fazer valer o esforço pelos estudos. É uma pena que minha mãe não está mais aqui para se alegrar comigo.
Já matriculada e realizada por estar numa universidade pública, comecei a freqüentar a aula cada vez mais interessada no curso e me sentido encantada pelo vasto campo de conhecimentos ligado às diversas áreas onde o ser humano está inserido (sociologia, psicologia, filosofia, história da educação, Ciências Políticas etc.). E estes conhecimentos me ajudavam (e ajudam) a qualificar minha atuação no contato com os grupos e pastorais com os quais desenvolvo trabalhos (Pastoral da Juventude, CAPS – AD, Jovens dependentes químicos, Pastoral Carcerária, CEB’s, Serviço de Animação Vocacional e Abrigo dos Idosos/as).
A cada semestre cursado vou percebendo o gosto pelo curso de Pedagogia. Tenho algumas críticas a serem feitas em relação à metodologia utilizada por alguns docentes, contudo, não deixo isso ofuscar a admiração que tenho pelos professores/as compromissadas e não perco de vista que seus exemplos de trabalho tiveram grande parcela de contribuição no meu zelo pelo curso e pela educação.
À medida que o tempo vai passando, fica clara a importância de cada disciplina na grade curricular, como elas se entrelaçam e se completam possibilitando a nós discentes, uma compreensão holística do homem/mulher e não uma visão fragmentada, reduzindo-os a mentes pensantes que estão na sala de aula desprovidos/as de suas experiências e conhecimentos adquiridos em ambientes que não são escolares.
Agora, no último semestre, contemplo a riqueza de conhecimentos adquiridos, construídos, partilhados ao longo do curso e, acima de tudo, a responsabilidade que tenho com a educação das classes populares. Desejo fazer de minha prática pedagógica um momento de ação, reflexão, pesquisa, troca de conhecimentos e ação refletida com objetivo de oferecer aos estudantes que estiverem sob minha responsabilidade, algo melhor do que recebi dos professores/as com quem estudei.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
A pesquisa como eixo de formação docente
As pesquisadoras Esteban e Zaccur fazem uma interessante reflexão a respeito das pesquisas realizadas em torno da educação. Elas afirmam que, apesar das inúmeras pesquisas existentes nesta área, a escola ainda se apresenta excludente, desenvolvendo um trabalho pouco satisfatório ligado à alfabetização que é à base de todo um caminho da educação.
Nesta problemática a professora fica sendo culpada pela deficiência da educação. Diante de inúmeros discursos pedagógicos, que poderiam contribuir com o processo de ensino-aprendizagem, fica esquecido no tempo e, as práticas tradicionais retomam o seu lugar. Há casos em que a teoria é assimilada, mas na prática ela se mostra incapaz de sanar a situação vezes por causa da cópia fidedigna, vezes porque a teoria dista da realidade escolar. Quem pensa não tem o cuidado de aproximar-se da escola real para tentar ajudá-la, antes descreve de acordo com o que lhe aprouve. Isso resulta em teorias improdutivas.
A pesquisa, por outro lado, surge das inquietações encontradas nas situações experimentadas no cotidiano da escola, num sentido de busca de respostas teóricas para situações específicas. Assim procede a professora-pesquisadora que consegue reler criticamente suas práticas e posturas como profissional da educação e procura superar seus limites e ampliar suas capacidades.
No universo acadêmico, onde prevalece à dicotomia entre o pensar e o fazer, bem como as teorias descontextualizadas torna difícil a reflexão referente às práticas pedagógicas. Existe na universidade uma tradição curricular em que os discentes estudam ao longo do curso as disciplinas teóricas. Já as que são ligadas à prática, ao saber fazer chegam a tempo atrasado, no final do curso, juntamente com o estágio, isolado das outras disciplinas. Daí resulta que o estagiário/a se defronta com situações onde as teorias adquiridas são insuficientes, sendo necessário realizar outras pesquisas. As autoras afirmam que, os conhecimentos acumulados ao longo do tempo não são suficientes para responder às inúmeras questões emergentes das turmas particulares, pois estes generalizam os problemas não especificando traços e atos cotidianos.
Formar o professor/a pesquisador faz-se necessária afim de que se possa inverter a situação dicotômica entre saberes e fazeres, teorias e práticas. A prática deve ser o ponto de partida e finalidade do professor/a com a prudência de não colocar a prática em detrimento da teoria, mas sim utilizar o tripé educacional prática-teoria-prática relacionadas às condições e realidades apresentadas pela escola.
O objetivo desta reflexão é que os professore/as possam estar aptos a intervir de forma significativa nas situações particulares encontradas em seu ambiente de trabalho. A construção de leituras críticas e a pesquisa se tornam importante instrumento em suas mãos. Dessa forma todo/as envolvidos na educação alcançarão resultados satisfatórios a no processo ensino-aprendizagem.
ESTEBAN, Maria e Tereza e ZACCUR, Edwiges (orgs). Professora – pesquisadora: uma práxis
Por que o estágio para quem não exerce o magistério:
Aprender a profissão
As autoras deste texto iniciam sua reflexão acentuando algumas inquietações peculiares aos estudantes do magistério e/ou da pedagogia acerca do estágio, sobretudo os que ainda não têm prática em sala de aula.
Na verdade, o estágio é um período propício às confrontações teórico-práticas. E, para quem não tem experiência na área, muitas vezes entra em pânico frente às situações ali encontradas, pois se defrontam com realidades que fogem das teorias aprendidas na academia, o ideal e o real que se pode contemplar. Muitas são as deficiências encontradas nas escolas que vão de materiais didáticos ao material humano bem como a realidade de educação familiar, a violência etc.
Diante das situações encontradas nas escolas, é muito comum que estagiário/as se sintam amedrontados e sem orientação para lhe dar com a situação. Percebe-se que a universidade ainda se mantém distante da escola e da situação em que se encontra. É urgente que o estagiário/a conheça o cotidiano da escola e o significado e objetivo do estágio para que possa realizar um trabalho de intervenção significativa na vida do/a estudante ali inserido.
O estágio está envolvido num campo de poder tanto na universidade quanto na escola. E, como afirmam as autoras, “os estagiários viverão a tensão desse jogo” (p.107)
E é no interior das instituições que são construídas as regras a serem vividas por seus membros passando por culturas muitas vezes dominantes regulamentando o sistema de educação. Contudo, essa cultura também desenvolve “habilidades e formas de conhecimento necessário para a transformação social” (p.109) produzindo condições para superar as práticas dominantes. O que torna necessário ao estagiário/a ter um olhar atento e sensível frente às histórias da turma que acompanha e realizar atividades que venham favorecer a quebra da cultura dominante e a construção de novas culturas que manifestem vida a cada pessoa envolvida neste processo.
Outro ponto importante para destaque é a questão da pesquisa na prática do estágio tanto para o professor/a que supervisiona como para o estagiário/a. Muitos são os profissionais da educação que se fecham no conhecimento adquirido há muito tempo como se este fosse um processo fechado e possível se esgotar. No estágio, ambos são favorecidos, professor/a e estagiário/a, com a reflexão da prática e a pesquisa cotidiana visando à melhoria de sua atuação na educação.
Com essa reflexão pode-se afirmar que o estágio é o momento de troca de experiências, de leitura sensibilizada, disponibilidade para construir, refletir e reconstruir práticas pedagógicas inclusivas e, principalmente adquirir conhecimentos práticos a partir da aproximação do corpo docente da universidade e profissionais da educação lotados na escola.
PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro Lucena Lima. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez. 2004.